Quem acompanhou o surgimento arrebatador de Wilson Simonal nos anos 1960 certamente não faria um prognóstico correto do rumo que sua carreira viria a tomar.
O melhor retrato deste sucesso certamente foi a apresentação no Maracanãzinho, em 1969, em que Simonal nem era a atração principal. Foram 30 mil vozes em completa sincronia com o artista. Quando Sérgio Mendes entrou, o público, ainda em êxtase, parecia não querer a presença do cantor principal da noite. Foi preciso que Simonal voltasse ao palco e cantasse uma música com Sérgio, para enfim, acalmar o público.
Se Simonal era tão popular, por que pouco se ouviu falar sobre sua carreira durante tantos anos? A resposta é que ele, talvez, tenha sido o primeiro artista “cancelado”, muito antes do Instagram ou YouTube. Numa história controversa e com várias versões, a mais aceita é que Simonal acusou seu contador de roubo e o entregou a agentes do Departamento de Ordem Política e Social, que arrancaram uma confissão sob sessões de tortura e ameaças à família. Porém, Simonal não contava que a esposa do contador fosse à polícia prestar queixa do sequestro do marido. Estava feito o espetáculo midiático. Simonal foi acusado de sequestro e chegou a ficar preso por alguns dias.
A partir daí, a carreira ruiu, com o boicote de artistas, rádios, TVs, gravadoras etc. Nem Sá Marina, Mamãe Passou Açúcar em Mim, Meu Limão, Meu Limoeiro, e diversas outras canções do repertório de Simonal foram capazes de afastar a fama de “colaborador do DOPS” e de impedi-lo de se afundar no álcool, culminando em sua morte por cirrose em 2000.
Reneé Filipe
Analista de Comunicação da Assemp
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